Escute o podcast aqui. *
Foi não apenas uma discussão, mas uma conversa gostosa feita entre amigos sobre um assunto muito importante. O encontro foi realizado em Tremembé - SP, no Ateliê Via Francisco (Cafeteria/Bar/Restaurante).
Uma vez por mês faremos uma reunião e postaremos aqui o texto escrito por um de nossos companheiros seguido do arquivo de aúdio do debate com exposições dos temas e datas futuras, caso alguém queira participar com a gente.
* Algumas das referências citadas no diálogo serão colocadas assim que eu as encontrar. Uma delas é sobre a sociedade de matizes, encontrada no livro de Alcimar Alves de Souza Lima cujo título é Acontecimento e Linguagem.
**Acerca do que eu mencionei em certo trecho, a entrevista foi feita pela GloboNews, no programa Cidades e Soluções e o nome do fotógrafo e jornalista que fez (e que continua sua árdua pesquisa) é James Balog. Assista um trecho do programa aqui.E se tiver interesse em aprofundar um pouco mais, veja uma palestra dele aqui.
O texto é do nosso amigo Carlos
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O Individuo
Apesar de
correr o risco de parecer provinciano, gosto de começar a explicar algo a
partir de sua significação léxica, então teremos individuo, como todo ser em relação a sua espécie, mas, ainda pode ser
pessoa isolada em relação a coletividade ou também, e essa ultima talvez a que
mais nos interesse, aquilo que não pode ser dividido.
Alem do
significado léxico como estamos falando de Filosofia é preciso saber também o
seu significado filosófico então fui buscar no dicionário de Nicola Abbagnano o
que era preciso e o sentido de
indivisibilidade permeia desde Aristóteles ate Boécio
no século 5.
Duns
Scott diz “ Chama-se individuo ou seja o
que é numericamente uno aquilo que não se divide e se distingue dos outros”, e Leibniz afirma ser impossível conhecer a
individualidade a não ser que seja considerada em si mesma.
É com
Martinho Lutero e sua reforma protestante que a questão “individuo” toma força
já que segundo Lutero o homem não precisava da igreja para se dirigir a deus. E
é sob essa ótica individual que as coisas começam a mudar tanto subjetiva e religiosa
como economicamente.
Adam Smith
um dos maiores pensadores do período da primeira revolução industrial, afirma
que a ambição individual era boa para a economia. A burguesia então armada de
preceitos religiosos com Lutero e intelectuais com Smith e com o dinheiro vindo
das aberturas propostas pelo governo inglês se lança a investir então na industria têxtil nascente
com a proposta de pagar cada vez menos para ganhar cada vez mais.
Os resultados
disso todos conhecemos.
Mas seria
todo individuo egoísta?
Kant diz que
não.
No texto
Aufklarung publicado no sec
XVIII, Kant nos fala da maioridade, mas não dessa maioridade criminal ou
cível com as quais estamos acostumados. Kant nos fala do individuo autônomo
aquele que pode pensar e agir por si mesmo.
Mario Fleig
em uma entrevista ao IHU diz o seguinte em relação ao individuo em Kant” O
individuo egoísta coloca em primeiro lugar a satisfação de suas pulsões a
qualquer preço ao passo que o individuo autônomo, quer refletir, deliberar e
pesar essas pulsões para então tomar a liberdade de satisfazê-las ou reprimi-las “
Kant diz que só há um meio de se atingir tal
autonomia e é através do esclarecimento segundo a tradução do texto são essa as
palavras que ele usa”Esclarecimento é a saída do homem de sua minoridade pela
qual ele próprio é responsável”, Kant já afirma que o homem é responsável pela
construção de sua autonomia.
O filósofo
ainda utiliza argumentos que vão desde conselhos contábeis até mesmo religiosos,
para ilustrar suas afirmações, num dos parágrafos Kant diz “não raciocine,
apenas crede” “não raciocine, apenas
pague”, ou seja eu tenho um livro que pensa por mim, um religioso que é minha
consciência, porque pensar se posso pagar para que alguém faça essa dolorosa
ação por mim.
O individuo
autônomo de Kant tem total consciência de si, sabe que vive em sociedade e de
que existe interdependência entre os seres, tanto que afirma” Age de tal maneira que uses
a humanidade na sua própria pessoa como na de outro sempre e simultaneamente
como um fim e nunca como meio.
A sentença
acima é uma das três que compões o imperativo categórico que é composto de
outras duas:
Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se através da
tua vontade uma lei universal
Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma,
ao mesmo tempo como legislador universal através de tuas máximas.
Kant afirma
que é preciso agir e tomar decisões como atos morais sem que ninguém possa
sofrer conseqüências pelo ato.