terça-feira, 28 de outubro de 2014

O indivíduo sob uma ótica crítica - Podcast

No dia 26 de outubro de 2014, o CEFIL (Centro de Estudos de Filosofia - polo Vale do Paraíba) reuniu seus membros (Atanásio, Augusto, Bruno, Carlos, Diogo, Gaglioti e eu, Daniel) e demais participantes,  para discutir sob várias perspectivas um tema que é sempre repleto de entraves, armadilhas e polêmicas: o conceito de indivíduo, os discursos que se tecem em torno deste e os desdobramentos filosófico/sociais que implicam mudanças ora gritantes, ora imperceptíveis na vida humana. Posto que vivemos em um mundo onde as conexões se estabelecem de forma inegavelmente simultânea, com reverberações em todos os pontos, o modo como se compreende, como se foi construindo e alterando o conceito de indivíduo serve amplamente tanto para modelar diretamente o comportamento social, tanto para indiretamente modificar estruturas que aos obstinados e ignorantes parecem não existir. Tal é a importância de se discutir tal conceito, principalmente em uma época em que a economia, a política e a religião em seus polos fundamentalistas possuem ferramentas cruéis que agora começam a surgir no cenário de crise estrutural do sistema de produção das mercadorias.

Escute o podcast aqui. *

Foi não apenas uma discussão, mas uma conversa gostosa feita entre amigos sobre um assunto muito importante. O encontro foi realizado em Tremembé - SP, no Ateliê Via Francisco (Cafeteria/Bar/Restaurante).

Uma vez por mês faremos uma reunião e postaremos aqui o texto escrito por um de nossos companheiros seguido do arquivo de aúdio do debate com exposições dos temas e datas futuras, caso alguém queira participar com a gente.

* Algumas das referências citadas no diálogo serão colocadas assim que eu as encontrar. Uma delas é sobre a sociedade de matizes, encontrada no livro de Alcimar Alves de Souza Lima cujo título é Acontecimento e Linguagem.
**Acerca do que eu mencionei em certo trecho, a entrevista foi feita pela GloboNews, no programa Cidades e Soluções e o nome do fotógrafo e jornalista que fez (e que continua sua árdua pesquisa) é James Balog. Assista um trecho do programa aqui.E se tiver interesse em aprofundar um pouco mais, veja uma palestra dele aqui.

O texto é do nosso amigo Carlos 

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O Individuo

Apesar de correr o risco de parecer provinciano, gosto de começar a explicar algo a partir de sua significação léxica, então teremos individuo, como todo ser  em relação a sua espécie, mas, ainda pode ser pessoa isolada em relação a coletividade ou também, e essa ultima talvez a que mais nos interesse, aquilo que não pode ser dividido.
Alem do significado léxico como estamos falando de Filosofia é preciso saber também o seu significado filosófico então fui buscar no dicionário de Nicola Abbagnano o que era preciso  e o sentido de indivisibilidade permeia desde Aristóteles ate  Boécio  no século 5.

Duns Scott  diz “ Chama-se individuo ou seja o que é numericamente uno aquilo que não se divide e se distingue dos outros”,  e Leibniz afirma ser impossível conhecer a individualidade a não ser que seja considerada em si mesma.
É com Martinho Lutero e sua reforma protestante que a questão “individuo” toma força já que segundo Lutero o homem não precisava da igreja para se dirigir a deus. E é sob essa ótica individual que as coisas começam a mudar tanto subjetiva e religiosa como economicamente.

Adam Smith um dos maiores pensadores do período da primeira revolução industrial, afirma que a ambição individual era boa para a economia. A burguesia então armada de preceitos religiosos com Lutero e intelectuais com Smith e com o dinheiro vindo das aberturas propostas pelo governo inglês se lança a  investir então na industria têxtil nascente com a proposta de pagar cada vez menos para ganhar cada vez mais.
Os resultados disso todos conhecemos.
Mas seria todo individuo egoísta?
Kant diz que não.

 No texto  Aufklarung publicado no sec  XVIII, Kant nos fala da maioridade, mas não dessa maioridade criminal ou cível com as quais estamos acostumados. Kant nos fala do individuo autônomo aquele que pode pensar e agir por si mesmo.
Mario Fleig em uma entrevista ao IHU diz o seguinte em relação ao individuo em Kant” O individuo egoísta coloca em primeiro lugar a satisfação de suas pulsões a qualquer preço ao passo que o individuo autônomo, quer refletir, deliberar e pesar essas pulsões para então tomar a liberdade de satisfazê-las  ou reprimi-las “
Kant  diz que só há um meio de se atingir tal autonomia e é através do esclarecimento segundo a tradução do texto são essa as palavras que ele usa”Esclarecimento é a saída do homem de sua minoridade pela qual ele próprio é responsável”, Kant já afirma que o homem é responsável pela construção de sua autonomia.
O filósofo ainda utiliza argumentos que vão desde conselhos contábeis até mesmo religiosos, para ilustrar suas afirmações, num dos parágrafos Kant diz “não raciocine, apenas crede”  “não raciocine, apenas pague”, ou seja eu tenho um livro que pensa por mim, um religioso que é minha consciência, porque pensar se posso pagar para que alguém faça essa dolorosa ação por mim.

O individuo autônomo de Kant tem total consciência de si, sabe que vive em sociedade e de que existe interdependência entre os seres,  tanto que afirma” Age de tal maneira que uses a humanidade na sua própria pessoa como na de outro sempre e simultaneamente como um fim e nunca como meio.
A sentença acima é uma das três que compões o imperativo categórico que é composto de outras duas:
Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se através da tua vontade uma lei universal
Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo como legislador universal através de tuas máximas.
Kant afirma que é preciso agir e tomar decisões como atos morais sem que ninguém possa sofrer conseqüências pelo ato.
 



sábado, 1 de março de 2014

Da importância do dedo opositor

Desenvolver um dedo opositor definitivamente é algo maravilhoso, mesmo porque um dedo opositor contribui tanto para apertar a mão em sinal de amizade, ou para segurar uma pedra e matar.
Descer das árvores foi uma atitude corajosa, mas tendo um dedo opositor as coisas ficam bem mais tranquilas, pois conseguimos segurar varas e fazer lanças para nos proteger.

agora... FODA MESMO é pensar!

Ter consciência da totalidade das relações humanas!
Pensar? Que dizer então de olhar para o Todo das relações e procurar compreender o Zeitgeist, o espírito do tempo? Que dizer então de buscar o fundamento do estado de coisas que nos empurra para a barbárie? Que dizer então sobre assumir um compromisso com a realidade em prol da raça humana, em defesa do nosso mundo, e primeiramente em nossa própria defesa?

PENSAR é para os corajosos! 

Sim, porque pensar DÓI, porque ter consciência da Totalidade das Relações é DIFÍCIL PRA CACETE. É preciso ter muita força de vontade, aliás, é precisamente de Vontade que se precisa, mais ainda, de uma Vontade plena por consciência!

A saída mais fácil é fechar os olhos com os dedos opositores e regredir até a barbárie. E só o que se vê por todos os cantos do mundo é a recusa quase geral dos homens e das mulheres em conhecer, a recusa da própria condição que nos faz homens e mulheres, a condição de PENSAR.

Quem sabe... tornemos a subir nas árvores (se elas ainda existirem), e quem sabe até cortemos nossos dedos opositores, porque no fundo é isso que a grande maioria das pessoas quer: não ter consciência de absolutamente nada, ou seja, não ter nunca existido!

Mundo fragmentado que vive uma ilusão ridícula de conexão, não passam de um bando de ovelhas correndo pra lá e pra cá, indo de um lado para o outro, sem qualquer sombra de dúvida, tudo está correto, tudo está dado, tudo está per-feito...

Pensar... isso é coisa de gente que não tem o que fazer!

Mas o que, de fato, há para fazer? 
Escorrer o cérebro no entretenimento vazio? ser uma bolha ambulante? manter uma rotina de trabalho e ter sempre um sorriso no rosto? falar sempre mensagenzinhas fofas e de esperança utópicas prontas como fórmulas mágicas que eliminem todas as tragédias e nunca questionar o status quo da realidade?
E acreditar neste sonho esquizofrênico de que "está tudo bem"?
Quanta insensibilidade, quanta frialdade... 

Frialdade, eis a palavra-chave. Trata-se de um grande defunto social. Gott ist tot, em sua mais alta retumbância! Got ist tot!

Pra quê se desgastar? já está tudo mastigado! 
O mundo virou uma papinha de neném, um bando de nenéns barbados e com peitões. Um bando de nenéns pajeados pelos robôs da tecnologia moderna, o ápice do conforto. Estamos exatamente onde todos nossos antepassados não puderam estar, estamos no paraíso! MALDITO PARAÍSO!
Modernidade! Santa Modernidade! Que diriam os medievais da modernidade? Ficariam perplexos e escandalizados diante da servidão voluntária e da chacina compulsória, ou também se entregariam a esse grande parque de diversões niilista? 

Gott ist tot... proclama o profeta das montanhas, e nós dançamos sobre suas cinzas!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Máquina de Moer Homens



Sabemos que todos morrem. Sofremos com a morte de nossos familiares, de amigos, de animais de estimação, e sofremos também quando vemos mais uma vez a grande máquina negra humana de aniquilar outros humanos, tal como o que ouvimos a respeito do governo de Assad quando trucidou mais de 11 mil presos (veja aqui

Ficamos horrorizados com as inúmeras manifestações do corpo orgânico social e de todos os sinais funestos de exaustão e decadência, das falanges extremistas que começam a retomar seus lugares no palco de vários países, incluindo o Brasil – apesar de pouco ou nada ser, de fato, discutido ou desvelado para as grandes massas. E nem estamos contabilizando as outras miríades de "números" que morrem nos âmbitos de trabalho, ou dos que caem nos campos modernos de concentração dos totalitarismos ocultos em escolas, empresas e em inúmeras instâncias de nosso mundo; sem contabilizar os que, mesmo que mantidos vivos, são oprimidos e tratados como escória e lixo não reciclável, tais como os moribundos, os velhos, os doentes terminais, os que possuem alguma debilitação mental grave, os mendigos etc.

Os economistas, empresários, líderes e governantes sabem perfeitamente bem da dimensão trágica pela qual passamos, metaforicamente como se fosse um grande umbral, literalmente a degenerescência e putrefação das estruturas de nossa civilização. Eles, porém, insistem num diálogo pacificador, moralista e piegas que escamoteia uma grande teia de informações e estatísticas que poderiam gerar, ou usando termos mais psicanalíticos e junguianos, que poderiam fazer emergir o mal estar e as sombras de uma doença interna que já nos estava corroendo lenta e sutilmente (nossas instituições, movimentos sociais, ONGs, ativismos políticos desarticulados e jovens se debatendo continuamente sem sequer possuírem uma centelha de luz a respeito do que realmente ocorre no núcleo fundamental desta crise social-geral que enfrentamos, e que são indicativos de que não somente estes órgãos entraram em colapso, mas o sistema todo que os mantinha em pleno funcionamento). Também eles, estes gestores do sistema (ainda que tal termo me incomode pelas conotações defasadas que possui, mas que é o que melhor serve à nossa reflexão), estão igualmente presos a esta grande teia de confluências funestas e temem, tanto quanto nós, um colapso que poderia expor a barbárie e a dissolução desta frágil e efêmera ordem social.

Quê mais foi o World Economic Forum, realizado em Davos, se não um grande espetáculo de discursos falando sobre bandaids, mas sem qualquer menção às reais contradições da economia mundial e de suas subsequentes crises, seus desdobramentos nos países marginais, os de "3° ou 4° mundo", e dos borbulhamentos sociais que são apenas um fenômenos microcósmico de um problema maior que, tão assustadoramente está embrenhado nos meios de produção atuais?
Klaus, o presidente do Fórum Econômico Mundial, havia prometido tratar da questão fundamental do mundo. Mas... fica a dúvida se isso foi realmente feito, pois só o que vimos foi a constatação das feridas abertas do mundo, sem que houvesse qualquer esforço para expor o núcleo da verdadeira questão.

Sim, não se trata de pontos críticos isolados, desconexos e/ou aleatórios. Trata-se de manifestações interrelacionadas que apontam para um problema muito mais grave e que açoita toda a humanidade atual: a morte e a ruína das próprias estruturas de nossa civilização moderna. Esta crítica é radical exatamente neste sentido, porque aponta uma crise que é desdobramento consequencial de ações e paradigmas, de conceitos e estruturas natimorfas. Já estamos numa época em que tais apontamentos se fazem necessários, não podemos mais aceitar aquelas discussões estéreis e cansativas que tratam apenas dos efeitos, mas não das causas. Perdoem-nos os otimistas, mas trata-se de um momento histórico e todos nós fomos jogados na arena, todos, não há distinção nenhuma. Esquerda, Direita, Apolítico... isso já não importa mais. Ou tomamos consciência de que se trata de uma Humanidade total que está dando sinais de falecimento, ou estamos fadados ao susto daquela metáfora do "ladrão na noite"...

Não nos importamos se alguns nos ridicularizam, taxando-nos como profetas apocalípticos, ou se nos rotulam como loucos e termos parecidos ou mais gruturais, porque sabemos exatamente em que se baseia nossa crítica. Na verdade, bradamos aos quatro cantos que qualquer pessoa pode tomar consciência desta nossa condição se analisar com rigor, critério e coragem a lógica interna dos nossos modos de produção social, a produção social da própria loucura, a produção social de tumores sociais, a produção social da barbárie.

É preciso enfrentar as superfícies e descer um pouco mais aos infernos desta sociedade, mas não é preciso descer tanto, pois o câncer já se expandiu o suficiente para, como erupções cutâneas, jorrar pus e sangue, sangue por todos os lados, em nossas cidades, centros urbanos, áreas rurais, ilhas, países inteiros e que começa a assombrar todos os nossos continentes.


Talvez tudo isso soe em alguma frequência dramática e exagerada,  mas que podemos fazer diante da dor, a não ser recorrer à metáfora para, como um último esforço, alertar a todos disto que já não pode ser nomeado sequer como sono da ignorância(por mais que Hipnos seja irmão gêmeo de Thanatos), um esforço de escancarar que nossos paradigmas estruturais nos corromperam de tal forma que estamos todos prestes a morrer?

O Necrotério Filosófico se propõe analisar este grande corpo social atual, os sinais de sua falência e criar minimamente espaços de discussão, reflexão e possíveis intervenções. 
Mesmo que diante de um cadáver a intervenção última seja a de enterrá-lo...

Daniel Vieira de Carvalho
CEFIL - Taubaté/SP

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Catástrofe Anunciada - Modernidade

modernidade-2Nessa temática tão ampla e ao mesmo tempo tão rica de possibilidades, pensar a morte na sociedade passaria também por pensar de que forma ela acontece em um sentido menos físico ou biológico enquanto civilização. É fato que em nome dos valores engendrados pelo capitalismo o homem mata seu semelhante e explora toda a vida do planeta sem quaisquer resquícios de remorso, já que justificado por algo que se acostumou chamar “meritocracia”. Mas não é dessa morte (muito mais sintoma do que causa) que precisamos falar; ela está aí, na nossa frente, na barbárie que se avizinha, na morte torpe e gratuita que vemos cotidianamente nos noticiários. A morte da qual falamos é uma morte, digamos assim (se é que podemos dizer isso), do espírito humano, ou seja, daquilo que se convencionou entender como a capacidade humana de pensar-se, superar-se e projetar-se ao futuro numa dinâmica coletiva e coparticipativa (mesmo que conflitiva e dialética).

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Inauguração do site do Necrotério Filosófico

001_inicioÉ com imenso prazer que fazemos o pré-anúncio da inauguração do site do Necrotério Filosófico, que terá sua estreia oficial início de Fevereiro/2014. Estamos nos ajustes finais para que o site esteja pronto dentro do prazo e possa cumprir seus objetivos de divulgação e disseminação das ideias que norteiam o evento Necrotério Filosófico.