quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Catástrofe Anunciada - Modernidade

modernidade-2Nessa temática tão ampla e ao mesmo tempo tão rica de possibilidades, pensar a morte na sociedade passaria também por pensar de que forma ela acontece em um sentido menos físico ou biológico enquanto civilização. É fato que em nome dos valores engendrados pelo capitalismo o homem mata seu semelhante e explora toda a vida do planeta sem quaisquer resquícios de remorso, já que justificado por algo que se acostumou chamar “meritocracia”. Mas não é dessa morte (muito mais sintoma do que causa) que precisamos falar; ela está aí, na nossa frente, na barbárie que se avizinha, na morte torpe e gratuita que vemos cotidianamente nos noticiários. A morte da qual falamos é uma morte, digamos assim (se é que podemos dizer isso), do espírito humano, ou seja, daquilo que se convencionou entender como a capacidade humana de pensar-se, superar-se e projetar-se ao futuro numa dinâmica coletiva e coparticipativa (mesmo que conflitiva e dialética).

Parece-nos que fenomenologicamente a civilização existe na esfera de conservação do SER: um modo de SER, forma de vida (mesmo que essa forma de vida se modifique ao longo do curso histórico). A vida de uma sociedade se dá pela distinção que é possível fazer em uma cultura ou em um determinado “life style”, envolvendo aí cosmovisões, identidade e, sobretudo, como essa sociedade se vê e se projeta ao futuro, ou seja, seu espírito. Matar esse espírito é matar essa sociedade. Pensamos, portanto, que é esse o caso.

Sendo esse o caso, anunciar a morte do espírito é anunciar não só a morte da atual sociedade, mas a morte da sociedade enquanto possibilidade de relação humana. Mas, mais do que um anúncio, objetivamos também um prenúncio, ou seja, que essa morte seja desejada (já que inevitável – e precisamos demonstrar isso) para a anunciação de novos tempos, de novas relações sociais, de novos paradigmas possíveis e desejáveis, de novas relações produtivas e econômicas.

Quando falamos na morte da sociedade como a conhecemos, falamos de um irresistível declínio daquilo que (não importa o que) lhe conferia características civilizatórias: sua identidade e os princípios que dão coesão social e convivência mútua a seus membros. E por que insistir que a sociedade está morrendo? De que forma podemos observar o esgotamento de suas condições de possibilidade e vaticinar sua morte como insuspeita?

É inevitável que nossas observações partam do pressuposto de que a vida social se faz da qualidade das relações sociais existentes, seja em termos legais ou tácitos. Se os princípios norteadores que mantêm essa coesão já não fazem mais sentido, é preciso revê-los, refazê-los ou defenestrá-los, sob pena da artificialização de toda relação possível entre as pessoas. Essa artificialização é o signo da catástrofe.

É nesse ponto que reside o grande problema a ser enfrentado pela Filosofia se ela não quiser findar-se junto com a sociedade a qual conhecemos e, pior, junto a qualquer sociedade possível diante desses sinais dos tempos. A questão é saber se nossa civilização (greco-romana de um lado e judaico-cristã de outro) nasce já com o signo da catástrofe anunciada e como e por que permitimos que ela, além de seu anúncio, se objetivasse?

Robô - Escravo da modernidadeA primeira tese é que sim; nascemos sob o signo da catástrofe anunciada. Nosso raciocínio (ou mentalidade), as relações que estabelecemos junto à natureza e toda simbologia que construímos para justificar nossos atos, justamente para não ser necessário mais raciocinar, anuncia desde sempre um elemento catastrófico na hermenêutica de nossa formação como sujeitos. A segunda tese, porém, preconiza que junto com a catástrofe, anunciava-se também uma potência geradora, criativa e transbordante de possibilidades que poderiam ser escolhidas, testadas e implementadas de forma mais eficiente e profícua. Em algum momento perdemos o bonde da história. E nesse momento desenvolveu-se o sistema econômico ao qual estamos sujeitos, que forma nossa subjetividade e nos subsume enquanto SER. As bases pelas quais o sistema se consolidou e se voltou contra nós a nos determinar para sua manutenção e crescimento contínuo e artificial, se dá no que convencionamos a chamar Modernidade. Ou seja, a Modernidade é a efetivação do próprio signo da catástrofe anunciada na formação de nossa civilização: símbolo, portanto.

Minha palestra, prevista na segunda semana do evento Necrotério Filosófico, procurará defender essas teses e trazer aos participantes um panorama pelo qual possamos discutir alternativas e formas de pensar que compreendam os tempos atuais e prenuncie ações possíveis para um renascimento mais digno das relações sociais.

Aguardamos vocês lá. Grande abraço.

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